2025, Vol. 12, No. 2.
DOI: https://doi.org/10.17979/reipe.2025.12.2.12534
Resenha do livro: Aportes en psicología evolutiva y de la educación
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Homenagem ao professor Eliseo Alfonso Barca Lozano (1948-2024), Diretor fundador da Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación Coordenação: Alicia Risso1, Manuel Peralbo1, Juan Carlos Brenlla1, Leandro Almeida2, & Bento Silva2 1 Universidade da Coruña. A Coruña, España 2 Universidade do Minho. Braga, Portugal Editorial: Servizo de Publicacións. Universidade da Coruña Año: 2025 Nº de páginas: v + 501 ISBN: 978-84-9749-909-5 DOI: https://doi.org/10.17979/spudc.9788497499095 |
Aportes en psicología evolutiva y de la educación é uma obra coletiva que reúne investigações e reflexões de autoria espanhola, portuguesa e brasileira, em homenagem ao Professor Alfonso Barca-Lozano (1948–2024), figura-chave no campo da Psicologia Evolutiva e da Educação. É composta por 23 capítulos, organizados em cinco blocos temáticos que atendem às linhas de trabalho do homenageado, para além de um prefácio e um epílogo. Os capítulos combinam marcos teóricos e evidências empíricas recentes, oferecendo uma visão ampla, interdisciplinar e aplicada.
O primeiro bloco explora fatores psicológicos e contextuais que afetam a aprendizagem e o desempenho escolar. Inclui estudos que examinam a influência de variáveis cognitivas, motivacionais e socioemocionais ao longo da trajetória escolar, com especial atenção para os momentos de transição, como o ingresso no ensino superior. São apresentados programas de intervenção voltados para a melhoria das competências matemáticas e análises de como o estresse percebido, as metas académicas e a adaptação socioemocional afetam o bem-estar psicológico, a saúde mental e o sucesso dos alunos. Também são abordados perfis de abordagens de aprendizagem nas tarefas escolares, a relação entre atitudes ambientais e autoconceito em jovens e a influência das funções executivas em alunos com dislexia.
O segundo bloco centra-se na inclusão educativa e nas necessidades de apoio. São descritas as experiências de alunos com deficiência ou em situação de vulnerabilidade no ensino superior, destacando as barreiras e os apoios necessários para o seu sucesso. Analisa-se o design universal para a aprendizagem como estratégia para construir ambientes inclusivos, bem como o impacto da ansiedade e das dificuldades executivas em adolescentes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Também são revistos os desafios na deteção precoce de dificuldades específicas de aprendizagem e a importância de capacitar os professores na relação com as famílias para melhorar a resposta educativa.
O terceiro bloco aborda o desenvolvimento infantil e a parentalidade positiva. Inclui trabalhos sobre programas de intervenção precoce que colocam a família como eixo da intervenção, bem como sobre a avaliação e intervenção na comunicação e na linguagem. Estuda-se o papel do bilinguismo e do ambiente socioeconómico no funcionamento executivo, destacando como a memória de trabalho e a consciência fonológica interagem com o contexto. Além disso, são revisadas as contribuições da Psicologia Positiva para a educação e a saúde, sublinhando a importância do bem-estar e das competências socioemocionais.
O quarto bloco gira em torno do currículo e do ensino superior. É analisado como a formação universitária contribui para a identidade profissional e reflete-se sobre o currículo como espaço de reparação histórica, propondo uma educação que incorpore diversidade, identidade e verdade histórica. É apresentada uma revisão sistemática das metodologias de aprendizagem ativa no ensino superior, identificando tendências e desafios para melhorar a qualidade da aprendizagem. Também são estudadas as diferenças nas habilidades espaciais de acordo com a qualificação e o género, e sua relevância para determinadas áreas académicas. O bloco termina com uma análise das estratégias para preservar a integridade e a credibilidade das publicações científicas, com especial atenção à deteção de plágio.
O quinto bloco é dedicado a métodos de investigação e transferência de conhecimento. Aborda-se a entrevista de restituição de informação como parte fundamental da prática de avaliação psicológica em contexto escolar, exploram-se aplicações educativas de processos de aprendizagem associativa e priming, e apresenta-se uma análise bibliométrica da própria Revista de Estudos e Investigação em Psicologia e Educação, que revela as suas tendências temáticas e redes de colaboração na última década.
A obra destaca-se pela amplitude temática e pela combinação equilibrada entre fundamentos teóricos e resultados de investigação. A diversidade de metodologias e abordagens permite aos leitores obterem uma visão atualizada das questões relevantes em psicologia e educação, desde a creche até à universidade. Entre os seus pontos fortes, destacam-se: a abordagem interdisciplinar, que integra perspetivas psicológicas, pedagógicas e sociais; a atenção a contextos e populações diversas, incluindo alunos com necessidades específicas e ambientes culturais distintos; a presença de propostas de intervenção concretas e transferíveis para a prática educativa; o equilíbrio entre investigações empíricas e reflexões conceptuais, que enriquece a compreensão dos fenómenos estudados.
Embora a sua extensão possa ser um desafio para quem procura uma leitura sintética, a estrutura por blocos temáticos facilita a consulta seletiva de acordo com interesses específicos. Além disso, a variedade de casos e contextos garante a relevância para um público amplo.
Aportes en psicología evolutiva y de la educación constitui uma valiosa contribuição para docentes, investigadores e profissionais da área educativa e psicológica. A riqueza temática, a solidez das suas contribuições e o caráter aplicado de muitas das suas propostas tornam-no uma obra de referência para compreender e enfrentar os desafios atuais na educação. Ao mesmo tempo, representa uma homenagem sincera a Alfonso Barca-Lozano, destacando tanto o seu legado académico como as suas qualidades humanas: dinamismo, generosidade e compromisso com o desenvolvimento pessoal e profissional daqueles que o rodeavam.
A seguir, apresenta-se uma breve descrição dos capítulos. O título aparece em espanhol ou em português, respeitando a língua em que o capítulo está redigido.
No capítulo 1, “Impacto das variáveis psicológicas no desempenho académico dos estudantes ao longo do percurso escolar”, Leandro S. Almeida, Joana R. Casanova & Ana B. Bernardo (Universidade do Minho & Universidade de Oviedo), aludem à tradição, dentro da Psicologia da Educação, de se recorrer a um conjunto diverso de variáveis psicológicas para explicar a aprendizagem e o sucesso escolar dos alunos. Estas variáveis ganham relevância particular nas transições entre ciclos escolares, pois formam as competências e recursos com que os alunos podem enfrentar os novos desafios inerentes a tais transições. Ilustrando com a transição para o ensino superior, descrevem-se dificuldades de adaptação académica que alguns estudantes experienciam, importando uma abordagem holística e longitudinal da confluência de tais variáveis psicológicas na explicação do sucesso e bem-estar dos estudantes, assim como na definição das medidas de apoio à transição por parte das instituições.
No Capítulo 2, “Entrenamiento de mejora cognitiva matemática”, Manuel Deaño Deaño (Universidade de Vigo-Ourense), descreve um programa de intervenção escolar com base na teoria neuropsicológica das funções cognitivas, conhecida pela sigla PASS (Planificação, Atenção, Processamento Simultâneo e Processamento Sucessivo) tendo em vista a melhor aprendizagem da matemática (Programa de Recuperación PASS-Matemático; PREP-M) em crianças da escola primária que apresentam dificuldades na aprendizagem da matemática ou com dificuldades de desenvolvimento cognitivo e deficiência intelectual leve. A par da descrição da teoria PASS e dos instrumentos de avaliação específicos baseados neste modelo teórico, são apontadas as suas potencialidades no campo da intervenção nas dificuldades de aprendizagem da leitura, escrita e cálculo, sugerindo práticas de ensino que centralizam a instrução na aprendizagem, conseguindo-se deste modo uma maior implicação por parte dos alunos na sua aprendizagem.
No capítulo 3, “Estresse percebido: relações com as metas de realização e a adaptação acadêmica”, Adriana Satico Ferraz, Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Neide de Brito Cunha & Katya Luciane de Oliveira (Centro Universitário de Brasília, Universidade de Brasília, Centro Estadual de Educação Tecnológica Paulo Souza, & Universidade Estadual de Londrina) analisam o impacto da saúde mental de estudantes do Ensino Superior na sua adaptação e sucesso acadêmico. Nos tempos pós-covid19 particular atenção tem sido dada aos fatores estressantes no bem-estar e saúde mental dos estudantes. Junto de 199 universitários, variáveis sucessivas foram consideradas para explicar o estresse percebido dos estudantes. Os resultados permitem concluir que a dimensão da adaptação pessoal-emocional explica 42% da variância do estresse percebido, explicitando-a como variável decisiva na saúde mental dos estudantes. Estes dados salientam a importância das vivências adaptativas dos estudantes uma vez ingressados no ensino superior e sugerem a necessidade de as instituições apoiarem os seus estudantes nos níveis de estresse vivenciado pois nem todos possuem os recursos pessoais para enfrentarem com sucesso as exigências desta transição acadêmica.
No capítulo 4, “Enfoques de aprendizaje adaptativos y no adaptativos en los deberes escolares”, José Carlos Núñez, Antonio Valle & Pedro Rosário (Universidade de Oviedo, Universidade da Coruña e Universidade do Minho), partindo de uma análise centrada na pessoa do aluno, procuram identificar perfis de alunos com diferentes combinações das duas abordagens clássicas (superficial e profunda) na realização dos trabalhos de casa (deveres) e como tais combinações poderão estar relacionadas com outras atividades relevantes na aprendizagem (tempo dedicado e número de deveres realizados, gestão do tempo, rendimento académico). O estudo considerou 602 alunos do 5º e 6º anos de escolaridade, tendo-se identificado três grupos de alunos: predomínio da abordagem profunda, predomínio da abordagem superficial e combinação das duas (abordagem estratégica). Os resultados sugerem que o perfil com predomínio da abordagem profunda é o mais adaptativo (o perfil assente na abordagem superficial o menos adaptativo), ou seja, são os alunos que, mesmo não despendendo mais tempo, apresentam melhor gestão do tempo, realizam um maior número de deveres e obtêm melhor rendimento escolar (neste caso em matemática).
No capítulo 5, “Perceções Ambientais e Autoconceito em Jovens Estudantes: Fatores e Implicações”, de Maria da Conceição Martins & Feliciano H. Veiga (Instituto Politécnico de Bragança & Universidade de Lisboa), aborda-se o tema atual da conservação do ambiente, um elemento central ao desenvolvimento sustentável do planeta. Defendendo um papel ativo da escola na promoção da educação ambiental, tomando a formação dos alunos, este capítulo apresenta as atitudes dos alunos nesta área, a partir de um levantamento junto de 1281 estudantes portugueses, entre 12 e 18 anos. Os resultados sugerem um aumento na preocupação com os problemas ambientais à medida que se avança no nível de escolaridade, podendo traduzir a progressiva introdução de temas da educação ambiental no currículo escolar, mas igualmente sinalizar que alunos com maior escolarização estão mais capazes de compreender a relevância e complexidade da perspetiva ecológica do desenvolvimento sustentável. Decorre daqui o interesse em proporcionar às crianças e adolescentes experiências na natureza como forma de aumentar o seu envolvimento nas questões ambientais.
No capítulo 6, “Funciones ejecutivas en escolares con dislexia fonológica y superficial”, Pilar Vieiro-Iglesias (Universidade da Coruña) destaca as funções cognitivas associadas à dislexia, comparando dois grupos de alunos: com dislexia evolutiva fonológica versus superficial (DS). No estudo participaram 20 crianças DF e 18 DS, e suas famílias. O controlo inibitório foi avaliado através do Teste de Stroop de Cores e Palavras, a flexibilidade cognitiva foi avaliada através da prova dos cartões do Teste de Wisconsin, a planificação foi avaliada através do subteste de Labirintos da WISC, a memória de trabalho verbal foi avaliada através do Reading Span Test e a memória de trabalho visual através do Span Visual Test, e o DEX-Sp avaliou o comportamento “disexecutivo” recorrendo a familiares. Os resultados traduzem diferenças em função do tipo de dislexia na execução das crianças em tarefas de planificação e de flexibilidade cognitiva e memória visual (não se registando diferenças entre os dois grupos na amplitude da memória de trabalho verbal e na tarefa de controlo inibitório, com baixos desempenhos nos dois grupos de crianças). No questionário DEX-Sp reportaram-se pontuações elevadas na inibição, intencionalidade e memória executiva, com um padrão similar nos dois grupos de crianças.
No capítulo 7, “Inclusão no Ensino Superior: perspetivas de estudantes com necessidades educativas especiais”, da autoria de Maria Palmira Alves, José Castro & Paula Santos (Universidade do Minho & Universidade de Aveiro), aborda-se a inclusão escolar por parte de alunos com deficiência e em situação de vulnerabilidade, ou seja, alunos com necessidades educativas especiais. Em particular, este capítulo, tomando o conteúdo de entrevistas conduzidas, centra-se na transição do Ensino Secundário para o Ensino Superior e as condições necessárias à inclusão e sucesso educativo destes estudantes, por exemplo a necessidade de uma maior articulação entre os dois níveis de ensino (secundário e superior), sistemas de apoio ao percurso académico destes estudantes, criação de atividades extracurriculares dirigidas a estes estudantes, mudanças nas metodologias de ensino e de avaliação tomando por referência as necessidades dos estudante e alterações arquitetónicas, de horários ou de transporte em resposta às condições de vida destes estudantes.
No capítulo 8, “Construyendo un ecosistema de aprendizaje para todas las personas”, Sonia Seijas-Ramos (Universidade da Coruña) aborda as questões, hoje bem atuais e presentes no debate educativo, associadas à diversidade e inclusão. Neste capítulo faz referência ao Center for Applied Special Technology (CAST) e à conceção e produção de suportes tecnológicos à aprendizagem de pessoas com dificuldades, de onde emergiu o Diseño Universal para el Aprendizaje (DUA) enquanto um modelo que promove a inclusão e a equidade na aprendizagem. Por razões várias, apontando a falta de formação prática dos professores ou a resistência à mudança por parte das instituições educativas ou a ausência de uma política educativa clara tendo em vista a inclusão, a sua implementação em Espanha permanece insuficiente. Discutindo estas condicionantes, a autora aponta alguns passos que seria necessário implementar para se criarem ecossistemas de aprendizagem que acomodem todas as pessoas.
No capítulo 9, “Autoconcepto y rendimiento académico en adolescentes con TDAH: repercusión de la ansiedad y el funcionamiento ejecutivo”, os autores Juan Carlos Brenlla-Blanco, Montserrat Durán-Bouza & Lorena Pena-Carballo (Universidade da Coruña) analisam adolescentes diagnosticados com transtorno por déficit de atenção e hiperactividade (TDAH) tomando a influência de algumas variáveis psicológicas, nomeadamente a ansiedade. Os dados sugerem que alunos com este transtorno neurodesenvolvimental apresentam baixos índices de autoconceito e autoestima, proporcionando assim elevados níveis de ansiedade. Esta situação torna-se preocupante pois a ansiedade decorre, mas também acentua, os problemas destes alunos ao nível das funções executivas da atenção, concentração e autocontrolo, assim como em última instância a aprendizagem e o sucesso académico. A conclusão é que ansiedade e as dificuldades escolares destes alunos acabam por ter um impacto negativo na evolução deste transtorno.
No capítulo 10, “Desafíos y soluciones en la detección precoz de las dificultades específicas de aprendizaje. Una perspectiva integral”, Rosa Maria Rivas-Torres & Santiago López-Gómez (Universidade de Santiago de Compostela) abordam as dificuldades específicas de aprendizagem, um tema que ganha relevância à medida que aumentam as investigações sobre os seus efeitos negativos e se reconhecem taxas mais elevadas de ocorrência entre os alunos. A palavra central na prevalência e grau de severidade destas dificuldades passa por uma avaliação e intervenção precoce, o que tendencialmente é um grande desafio pois não está generalizada a deteção precoce e, quando ocorre, essa deteção é bastante tardia. Esta situação merece ser superada pois a investigação disponível permitiu já elencar um conjunto de fatores de risco, ou seja, variáveis precursoras e preditoras das referidas dificuldades. Assim sendo, torna-se prioritário capacitar os professores e incrementar a existências de especialistas nos centros educativos por forma a se implementar procedimentos efetivos de deteção precoce de tais dificuldades no contexto escolar e as medidas pedagógicas e o apoio familiar mais adequados para maximizar o potencial de aprendizagem de cada criança.
No capítulo 11, “La formación para la relación entre la familia y la escuela”, Silvia López-Larrosa (Universidade da Coruña) aponta a necessidade de formação dos professores em torno do tema da relação escola-família. Sendo reconhecida pela investigação e pela própria legislação, a relevância da relação entre escola e família para a educação e aprendizagem das crianças e adolescentes, este capítulo aponta a necessidade de formação dos professores para se relacionarem proactivamente com as famílias e, assim, criarem um clima de colaboração. Esta interação é particularmente relevante quando os alunos apresentam maiores dificuldades na sua aprendizagem ou necessidades educativas. A autora avança, assim, com um programa de formação de estudantes de licenciatura e de mestrado em cursos de formação de professores, sendo apresentados os conteúdos dessa formação e as estratégias ou metodologias seguidas na implementação das atividades, bem como os resultados quantitativos e qualitativos obtidos para efeitos da avaliação da eficácia deste programa de formação.
No capítulo 12, “Atención temprana y parentalidad positiva”, os autores Iria Botana Lois, Eduardo Barca-Enríquez & Manuel García-Fernández (Universidade da Coruña) apontam que nas últimas décadas tem sido dada particular atenção ao desenvolvimento das crianças dos 0 aos 6 anos. Os programas de “Atenção Precoce” assumem a família e os contextos como foco da intervenção em prol das necessidades transitórias ou permanentes das crianças com transtornos no seu desenvolvimento. Ao contrário do modelo médico mais tradicional, o modelo centrado na família valoriza as interações sociais no desenvolvimento infantil, ou seja, uma perspetiva mais ecológica e onde o exercício da parentalidade e a formação dos pais se tornam decisivas, assumindo-se assim a centralidade da parentalidade positiva nos programas de atenção precoce.
No capítulo 13, “Comunicação e linguagem: Abordagens e práticas para avaliar e apoiar o desenvolvimento na infância”, Anabela Cruz-Santos & Sandra Ferreira (Universidade do Minho) abordam o desenvolvimento da comunicação e da linguagem, duas áreas centrais ao desenvolvimento psicossocial da criança, nomeadamente ao nível educacional, comportamental, socioemocional e cognitivo. Pela sua relevância nas aquisições desenvolvimentais e educativas sucessivas, e mais tarde escolares, importa a sua avaliação atempada, ou seja, o mais precoce possível, por forma a se implementarem práticas apropriadas de intervenção tendo em atenção as dificuldades e/ou perturbações da comunicação e da linguagem que a criança apresente. Os programas de desenvolvimento e as medidas educativas destas crianças devem assentar, cada vez mais, em evidências da investigação na área.
No capítulo 14, “Bilingüismo, entorno socioeconómico y funcionamiento ejecutivo: Un estudio comparativo en niños de 5 a 7 años”, Manuel Peralbo-Uzquiano & Alicia Risso-Migues (Universidade da Coruña) analisam o impacto do contexto bilíngue no desenvolvimento metacognitivo e no funcionamento executivo em crianças que iniciam a escolarização. O estudo tomou uma amostra de 85 crianças, entre os 5 e os 7 anos, 63 das quais pertenciam a uma comunidade bilíngue e 23 a uma comunidade monolíngue. As crianças realizaram provas de linguagem oral e escrita (LolEva) e os seus professores preencheram a versão espanhola do Childhood Executive Functioning Inventory (CHEXI) que avalia as dificuldades cognitivas das crianças ao nível do funcionamento executivo. Os resultados apontam para uma relação significativa entre as variáveis avaliadas por ambas as provas, emergindo a memória de trabalho como a função executiva que melhor explica os resultados de consciência fonológica. Observam-se também diferenças favoráveis às crianças do contexto monolíngue, contudo estas diferenças desaparecem se nas análises estatísticas se ponderar a natureza pública ou privada do centro educativo enquanto variável moderadora. Esta ocorrência sugere que o enriquecimento característico dos contextos bilíngues não é suficiente para superar o impacto do contexto socioeconómico em que ocorre o desenvolvimento infantil.
No capítulo 15, “A Psicologia Positiva brasileira e suas contribuições nos campos da educação e saúde”, Caroline Tozzi Reppold, Ana Paula Porto Noronha, Pamela Carvalho da Silva & Adriana Tavares Stürmer (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre & Universidade São Francisco) abordam os contributos da Psicologia Positiva em termos de um novo olhar sobre a saúde mental, o bem-estar e a realização pessoal, apontando as investigações na área para o empoderamento das pessoas, das instituições e das comunidades nas caraterísticas conducentes ao seu engajamento e felicidade. Mais concretamente neste capítulo apresenta-se a emergência e desenvolvimento da Psicologia Positiva, sendo muito expressivos os avanços conseguidos. No campo da Psicologia Escolar e Educacional identificam-se instrumentos qualificados que auxiliam as comunidades escolares na prossecução do sucesso educativo, do bem-estar e da promoção de valores sociais positivos, dando particular atenção ao desenvolvimento das competências socioemocionais de alunos e comunidade educativa.
No capítulo 16, “Contributos do currículo para a formação da identidade profissional do estudante do ensino superior”, de Suzana Nunes Caldeira, Margarida S. D. Serpa & Natascha van Hattum-Janssen (Universidade dos Açores e Saxion University of Applied Sciences), aponta-se a relevância do ensino superior no desenvolvimento de competências profissionais. Reconhecida esta como uma das missões de ensino superior e também uma das razões da escolha do ensino superior por parte dos jovens e suas famílias, importa que as instituições assegurem experiências de socialização orientadas para a formação profissional dos jovens, reforçando-se a sua identidade profissional. Tomando os resultados de questionários aplicados a estudantes e professores, verifica-se que os estudantes reconhecem a presença de experiências de socialização profissional que promovem processos de pensamento, de conhecimento e de reflexão sobre práticas, mesmo identificando a pouca exposição à prática profissional, aspeto que se constitui em desafio às instituições de ensino superior.
No capítulo 17, “O currículo como cultura de reparação histórica”, José Augusto Pacheco e Joana Sousa (Universidade do Minho) tecem considerações sobre a presença de acontecimentos históricos, pautados por acesa polémica, no currículo escolar. Num formato de ensaio, referem os autores que falar de cultura de reparação nos dias que correm é reconhecer sobremaneira a pertinência desta temática, mais ainda quando a questão é frequentemente usada de forma subversiva, com fins contrários à construção de futuros interculturais e compreensivos. Para que essa cultura se efetive, torna-se fundamental atender ao poder transformador da educação, por um lado, e fazer do currículo um projeto que têm de incorporar a diferença, a identidade e a cultura. Para isso, a educação e o currículo devem dizer a verdade em relação ao passado, não o reconhecendo como narrativa fechada e perspetivada somente por determinadas vozes.
No capítulo 18, “Metodologias de aprendizagem ativa no ensino superior: Uma revisão sistemática”, Carlos Morais, Luísa Miranda & Paulo Alves (Instituto Politécnico de Bragança), procede-se a uma revisão sistemática das publicações dos académicos portugueses sobre as inovações nas práticas de ensino tendo em vista uma aprendizagem mais ativa e mais participada dos estudantes no Ensino Superior. Com base nos resultados que se apresentam, o capítulo assume o desafio da necessidade de desenvolvimento de novas perspetivas e práticas pedagógicas em prol da qualidade da aprendizagem e do sucesso académico dos estudantes, movimento que se tem vindo a consolidar no ensino superior português.
No capítulo 19, “Orientación espacial: Diferencias entre los estudiantes de diversas titulaciones”, Alfredo Campos, María José Pérez-Fabello, Diego Campos-Juanatey, Santiago Tarrío & Pablo Costa (Universidade de Santiago de Compostela, Universidade de Vigo, Universidade da Coruña), relatam um estudo empírico junto de 261 estudantes universitários de três titulações (Arquitetura, Belas Artes e Psicologia) em torno de algumas das suas habilidades espaciais. Estas habilidades aparecem sobretudo valorizadas na aprendizagem em cursos das áreas STEM (sigla em inglês para agrupar os cursos de Ciências, Tecnologias, Engenharia e Matemática). A investigação envolveu tarefas experimentais de rodar mapas e de orientação espacial, sendo que os resultados mostram diferenças na rotação de mapas em função do curso e do género dos estudantes, sendo que na orientação espacial as diferenças se situaram apenas em função do género.
No capítulo 20, “Integridad y credibilidad de las publicaciones científicas: estudio integral sobre estrategias para combatir el plagio
”, Jesús Miguel Muñoz-Cantero & Eva María Espiñeira-Bellón (Universidade da Coruña), abordam o tema do plágio em contexto académico, colocando em causa a integridade e a ética académicas, seja ao nível da produção do conhecimento (sentido da autoria) seja ao nível da difusão do conhecimento, em particular pelas revistas científicas. O estudo reporta-se ao universo de 1.626 revistas indexadas em JCR e/ou SJR, tomando-se uma amostra final de 372 revistas que preencheram um questionário digital avaliando perceções, políticas editoriais e práticas relacionadas com o plágio. Os resultados revelam que a maioria das revistas possuem mecanismos de deteção de plágio, ainda que diferem nas suas políticas e formas de implementação. De notar que o autoplágio aparece como a forma de plágio mais frequente. Concluem os autores que importa melhorar os sistemas de deteção e aumentar a formação dos autores nas questões éticas e de integridade académica.No capítulo 21, “Entrevista de restituição da informação”, Mário R. Simões (Universidade de Coimbra) aborda um tema recheado de contornos técnicos e éticos no exercício da psicologia em contexto escolar, ou seja, a devolução de resultados da avaliação psicológica de crianças e adolescentes a pais, professores e aos próprios alunos. Pelos seus contornos e grandes implicações na vida dos alunos avaliados, melhor que essa devolução ocorra no quadro de uma entrevista específica, que complementa e explicita adequadamente o conteúdo do relatório escrito dessa avaliação. Logicamente que a sua concretização requer competências próprias por parte dos psicólogos, importando assegurar a sua formação nesse sentido.
No capítulo 22, “Aprendizaje asociativo E1-E2: Procedimiento de priming enmascarado semántico y de respuesta”, José Luis Marcos Malmierca (Universidade da Coruña), aponta algumas aplicações educacionais, em particular para o processo de aprendizagem, de dados decorrentes dos estudos laboratoriais com funções cognitivas. Neste caso, são usadas tarefas através do procedimento “priming”, ou seja, o efeito de um determinado estímulo (prime) na resposta a um estímulo subsequente (target). Esta influência é descrita na investigação com refletindo processos de ativação automática na memória, podendo-se falar em priming semântico (envolvendo redes de conceitos relacionados) e priming associativo (envolvendo a associação repetida entre estímulos). A investigação nesta área tem permitido identificar a presença de processos de aprendizagem inconscientes, por exemplo como estímulos irrelevantes ou mascarados acabam por influenciar a tomada de decisão, fornecendo pistas relevantes para se compreender a dinâmica entre perceção, atenção e memória na aprendizagem.
O capítulo 23, “Mapeamento científico da Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación: Uma análise bibliométrica das publicações de 2014 a 2023”, da autoria de Bento D. Silva & Regina Ferreira Alves (Universidade do Minho), dá a conhecer as tendências e trajetórias dos artigos publicados ao longo dos últimos 10 anos da Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación (REIPE), sendo que esta revista existe desde 1997 ainda que designada Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía e Educación, até 2013. A análise bibliométrica incidiu em 20 números da revista e num total de 164 artigos, descrevendo-se neste capítulo a nacionalidade e instituições dos autores, as áreas temáticas mais abordadas dado tratar-se de uma revista de largo espectro nos campos da Psicologia e da Educação, e as parcerias ou redes de pesquisa inerentes aos artigos publicados.
Para concluir, e voltando ao homenageado, Alfonso Barca-Lozano se apresentou sempre como um académico com grande força de vontade, dinamismo e capacidade de trabalho, e ao mesmo tempo amigo e promotor de espaços de liberdade e autorrealização nas interações com os seus colegas e colaboradores. Nestes espaços todos pudemos crescer e evoluir autonomamente como profissionais. Este livro traduz, por isso, um pequeno tributo dos organizadores e dos autores às qualidades do Mestre e o reconhecimento pelo impacto positivo que neles teve a sua existência e o seu legado!
Leandro S. Almeida
https://orcid.org/0000-0002-0651-7014
Universidade do Minho. Braga – Portugal
Alicia
Risso
https://orcid.org/0000-0001-6955-363X
Universidade da Coruña. A Coruña, Galicia – España
Data de receção: 15 de agosto de 2025
Data de revisão: 26 de agosto de 2025
Data de aceitação: 27 de agosto de 2025
Data de publicação: 1 de setembro de 2025