Vol. 28 N.º 1-2 (2021)

Inscritas num contexto de investigação literário-ambiental, queremos refletir sobre educação ambiental desde o conto “Entremeio com o vaqueiro Mariano” (1969), do brasileiro João Guimarães Rosa. Nesse conto é possível perceber vários elementos que compõem a vivência em Educação Ambiental, pois a personagem Mariano, um vaqueiro que vive no pantanal, demonstra ter saberes locais e por isso convive e conhece com destreza nesse ambiente peculiar. O Pantanal é um dos biomas brasileiros de áreas úmidas, ultimamente bastante agredido com diversas violências socioambientais. A literatura, vista como itinerário de formação, possibilita várias reflexões e pode contribuir para as pesquisas, vivências e cartografias no âmbito daeducação ambiental. Nesse sentido, o vaqueiro Mariano demonstra respeitar e viver em cuidadosamente com tudo que o envolve: Ele tem consciência e sensibilidade com a biodiversidade, pois Rosa expressa estes saberes, fazeres e sentires da personagem literária sobre os diversos Pantanais.
A poética emerge num contexto estético igualmente político, pois a literatura transborda a importância dos saberes nos cuidados de diversas espécies, humanos e não-humanos, além da importância das marcas da paisagem pantaneira.

Embora uma alta proporção de gases de efeito estufa tenha origem nos sistemas agroalimentares dominantes, incluindo o consumo de alimentos, o binómio Dieta-Alterações Climáticas (BDAC) ainda não recebe atenção suficiente dos Media e da área da Educação. Considerando os equipamentos para a educação ambiental (EqEA) como agentes da governança ambiental, foi concebido um projeto de investigação-ação-participativa em seis EqEA do Eixo Atlântico (Noroeste da Península Ibérica). O principal objetivo é explorar respostas educativas à emergência climática (REEC), nesta rede de equipamentos, através de estratégias pedagógicas ajustadas a subtemas do binómio Dieta-Alterações Climáticas (tipos de alimentos, estado dos alimentos, apresentação, origem, tipos de produção, desperdício de alimentos, conexão com a saúde). A inclusão pelos EqEA do subtópico saúde serviu para integrar atividades significativas do binómio Dieta-Alterações Climáticas. O tema associado ao consumo excessivo de carne (tipos de alimentos) não foi, por seu turno, facilmente aceite nem trabalhado pelos EqEA. A diferenciação das atividades de um equipamento para outro fomentou a motivação dos diretores e educadores de cada EqEA, bem como a ligação com o local e o impacto nos utilizadores. No entanto, a instabilidade das equipas educativas que os dinamizam é apontada como o principal fator condicionante para possíveis estratégias e respostas educativas à emergência climática.

O presente estudo foi executado no período letivo 2021-2022, a partir de um questionário proposto aos alunos da Licenciatura em Educação Básica, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (ESECS-IPL), Portugal, e da Licenciatura em Pedagogia, do Centro Universitário de Santa Fé do Sul-UNIFUNEC, no Brasil. Teve como objetivo conhecer e analisar as opiniões dos estudantes acerca dos principais problemas ambientais da atualidade, em âmbito global, nacional (Portugal) e estadual (Brasil), bem como perceber de que forma se autoavaliam relativamente à sua sensibilidade perante as questões ambientais. O estudo evidencia preocupações dos estudantes das duas instituições de ensino superior em relação aos problemas ambientais da atualidade, ainda que das várias questões apresentadas haja diferenças na priorização das problemáticas em análise.

Uma das missões do Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental (CMIA) de Vila do Conde é a comunicação de ciência relativa ao Oceano, desenvolvendo inúmeras atividades que incluem exposições, palestras, atividades hands-on, conversas com cientistas, entre outros. O CMIA pretende comunicar de modo eficiente, criativo e atrativo. Para atingir este objetivo opresente estudo pretendeu avaliar a relevância do Oceano para a Comunidade dos Paísesde Língua Portuguesa (CPLP) e como os centros de investigação, museus, organizações não-governamentais (ONGs) ou outras instituições que divulguem ciência, podem otimizar a suamissão de acordo com a opinião de como a população procura e gostaria de ver comunicadoa informação relativa às investigações realizadas pelos investigadores e comunicadores. Osdados foram recolhidos através de questionários realizado a indivíduos dentro da comunidade da CPLP que voluntariamente responderam ao mesmo. Os principais resultados mostramque 99.6% dos inquiridos considera que os investigadores devem divulgar o resultado dassuas investigações. Na sua opinião essa informação deve ser divulgada através de meioscomo redes sociais, televisão e sites governamentais e oficiais. Este estudo contribuiu paraoconhecimento das melhores ferramentas de comunicação que permitem aumentar aliteracia científica da comunidade, promovendo o interesse sobre a investigação científicadesenvolvida em prol do Oceano e da sua proteção.

Como um coletivo da pesca que prepara a rede desde a escolha dos materiais à tecelagem de sua malha, propomos a criação da Rede Oceano: Educação Ambiental nas comunidades e países de língua portuguesa. Um espaço que visa ser uma rede democrática de comunicação, em que haja a partilha e a integração de saberes. Uma iniciativa que está sendo idealizada para abranger todos os países, regiões e comunidades de língua portuguesa, em caráter oficial ou por identidade linguística e cultural. Como objeto de interesse comum, a Educação Ambiental Marinha e Costeira se constitui em um ponto de convergência para as e os participantes. Inicialmente sua proposta foi apresentada como uma mesa de diálogo no VI Congresso Internacional de Educação Ambiental dos países e comunidades de língua portuguesa e agora os seus nós começam a ser entrelaçados para a tecelagem de uma rede pautada na comunicação dialógica no âmbito da Lusofonia.

No atual cenário de crise ecossocial, o sistema agroalimentar industrial globalizado desempenha um papel decisivo, tanto pelos impactos que gera como pela sua vulnerabilidade às consequências daí resultantes. Por esta razão, a alimentação revela-se como um elemento educativo-ambiental de particular relevância, pois tem um potencial significativo de redução da pegada ecológica e é um fator chave para a transição para sistemas agroalimentares sustentáveis. Neste sentido, na província da Corunha como enquadramento territorial, através de um estudo de caso múltiplo verificamos a existência de iniciativas locais pioneiras na disponibilização de espaços e canais alternativos para o consumo alimentar responsável. Estes constituem contextos de inovação comunitária que propiciam boas práticas socioeducativas para a promoção da ecocidadania e a construção de uma cultura de sustentabilidade em torno da questão alimentar. Como resultados da pesquisa, descrevemos algumas das principais características das iniciativas analisadas, bem como apresentamos uma aproximação às especificidades da sua dimensão socioeducativa. Com base nisso, a título de considerações finais, apresentamos algumas diretrizes gerais para a elaboração de uma proposta de educação alimentar a partir da interface entre essas abordagens de ecocidadania e a cultura da sustentabilidade.