O Liceu fabrica 'Fadas do lar'. Atuações da Mocidade Portuguesa Feminina num liceu lisboeta.
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Resumo
A política educativa salazarista começa a desenhar-se a partir de 1936, substituindo-se o Ministério da Instrução Pública pelo Ministério da Educação Nacional, que assume educar as crianças, as raparigas e as mulheres portuguesas, enquadrando-as nos valores ideológicos do Estado Novo, para o qual a existência da mulher se confundia com a da família. A par dum conjunto de instrumentos legais, de onde se destaca a proibição da coeducação no ensino primário, são criadas duas organizações estatais – a Obra das Mães pela Educação Nacional e a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) –, para assegurar a modelação do caráter das futuras jovens e mulheres portuguesas. Pretendemos mapear atuações da MPF num liceu lisboeta, de frequência estritamente feminina, desde a sua implementação até aos finais dos anos 60 do século passado, período durante o qual a frequência de atividades da MPF oferecidas pela escola passou de obrigatória a facultativa. Explorando, essencialmente, um conjunto de fontes não trabalhadas e processando-se o trabalho hermenêutico no horizonte concetual da História da Educação das Mulheres, a reconstituição daquelas atuações permite-nos afirmar que, apesar de plurais, são concertadas para a produção de boas esposas e mães de família, garantindo-se que no liceu se fabriquem fadas do lar.
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Referências
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