Tradicionalmente, a prevalência de comportamentos de risco para a saúde entre os/as estudantes universitários/as é elevada. Embora estes comportamentos sejam frequentemente analisados isoladamente, é provável a coocorrência de múltiplos comportamentos de risco. Neste estudo, realizou-se uma análise de classes latentes com dados tranversais de 840 estudantes portugueses/as (55.4% do sexo feminino) para explorar os padrões de múltiplos comportamentos de risco inseridos em sete dimensões comportamentais (consumo de álcool, tabagismo, alimentação não saudável, sedentarismo, práticas sexuais de risco, drogas ilícitas e práticas de automedicação). Adicionalmente, realizou-se uma regressão de classe latente para explorar os preditores (perceção de bem-estar e características sociodemográficas e académicas) para cada padrão comportamental. Emergiu um modelo de três classes com diferentes probabilidades de risco: Comportamentos de baixo risco (51.4%), Comportamentos de risco moderado (14.9%) e Comportamentos de elevado risco (33.7%). Os/as estudantes com melhores perceções de bem-estar e saúde apresentaram mais chances de pertencer à classe mais saudável. Os/as estudantes das classes de baixo e moderado risco apresentaram maiores chances de frequentarem o 1º ano, não terem uma relação amorosa e serem estudantes a tempo inteiro. Aqueles/as que não tinham mudado de residência aquando do ingresso no Ensino Superior e do sexo feminino apresentaram mais probabilidades de pertencer à classe mais saudável. Este estudo apresenta estratégias essenciais para a promoção da saúde entre os/as estudantes universitários/as, fornecendo insights cruciais para a concepção de intervenções eficazes de promoção da saúde, especialmente para direccionadas a grupos específicos de estudantes com padrões semelhantes de múltiplos comportamentos de risco.
Durante a pandemia, o modelo flipped classroom (MFC) totalmente online constituiu-se como uma alternativa ao MFC híbrido. Para avaliar a adequação do MFC ao contexto online, desenvolveu-se um ciclo de investigação-ação com estudantes do ensino secundário português que conjugou aulas assíncronas com aulas síncronas. A configuração das aulas teve por base o modelo dos 5E: Engage, Explore, Explain, Elaborate e Evaluate. Os dados foram recolhidos através de um questionário e das interações dos estudantes nas atividades síncronas. Os resultados mostram que as aulas assíncronas despertaram o interesse dos estudantes pelo tema (Engage), permitindo-lhes adquirir uma compreensão inicial do tema (Explore) e demonstrar a aprendizagem adquirida (Explain). As aulas síncronas destacaram o papel ativo dos estudantes na resolução de problemas complexos em grupo e a ampliação das aprendizagens autónomas (Elaborate e Evaluate). Porém, no processo de ampliação das aprendizagens os estudantes apoiaram-se mais no feedback imediato do docente do que propriamente nos colegas de grupo. Os resultados do estudo confirmam que o MFC se adequa ao contexto online, promove a personalização das aprendizagens e o desenvolvimento da autonomia dos estudantes.
Face à elevada prevalência de crianças portuguesas com perturbações da comunicação, são necessários instrumentos válidos para a deteção precoce destas perturbações. Neste sentido, o objetivo deste estudo é determinar a eficácia do Early Communication Indicator-Portugal (ECI-Portugal) na identificação do risco de crianças portuguesas desenvolverem uma perturbação da comunicação. A amostra do estudo foi constituída por 480 crianças de todo o país, com idades compreendidas entre os 6 e os 42 meses, 40 das quais foram identificadas como tendo perturbações da comunicação. Os resultados revelaram que as crianças com perturbações da comunicação apresentam um desenvolvimento comunicativo expressivo significativamente mais lento do que as crianças com desenvolvimento típico, incluindo o uso mais prolongado de vocalizações e o aparecimento mais tardio de palavras e frases. Estes resultados demonstram a utilidade da ECI-Portugal na identificação de diferenças entre crianças com e sem perturbações da comunicação desde tenra idade, e a sua potencial importância como instrumento de avaliação e monitorização de problemas relacionados com a comunicação em crianças portuguesas desde tenra idade.
O consumo excessivo de substâncias ilícitas pode ter um impacto negativo na qualidade de vida de um indivíduo e é, por conseguinte, um indicador de psicopatia. A combinação do consumo de substâncias e da psicopatia pode ter consequências prejudiciais e conduzir a um risco acrescido de persistência e gravidade do consumo. Os estudantes universitários parecem estar em maior risco de consumo de substâncias ilícitas devido à sua disponibilidade e possível facilidade de acesso. O objetivo deste estudo é analisar a relação entre o consumo de substâncias lícitas e ilícitas e a existência de traços psicopáticos numa amostra de 487 estudantes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 17 e os 49 anos, dos cursos de ciências sociais de uma universidade pública em Portugal. Os dados para o estudo foram recolhidos através da Escala de Autoavaliação da Psicopatia (SRP-III), do Teste de Triagem para Abuso de Substâncias (DAST) e de um breve questionário sociodemográfico. Os resultados sugerem uma associação entre o consumo de substâncias e os traços psicopáticos (valores r = .18 a r = .37), confirmando a necessidade de deteção precoce de comportamentos aditivos entre os jovens. Os resultados revelam também um consumo de substâncias ligeiramente mais elevado no sexo masculino (M = 1.01; DP = 1.33) do que no sexo feminino (M = 0.52; DP = 1.14). O estudo conclui recomendando a criação de programas de intervenção dirigidos especificamente aos adultos jovens em contexto universitário, com o objetivo de prevenir ou intervir no consumo de substâncias ilícitas.
O comportamento adaptativo refere-se à eficácia com que uma pessoa responde às exigências naturais e sociais do seu ambiente. Inclui competências conceptuais, sociais e práticas aprendidas que permitem responder às circunstâncias do dia a dia, e é um dos critérios mais importantes utilizados para determinar o nível de incapacidade de uma pessoa. Por conseguinte, o objetivo deste estudo foi analisar a capacidade de prever o risco de PEA (Perturbação do Espectro do Autismo) utilizando os indicadores de comportamento adaptativo GARS-2 e ICAP. O estudo envolveu uma amostra de 209 pessoas da Galiza (Espanha). Um grupo (n=111) era constituído por pessoas com um diagnóstico prévio de PEA (37 do sexo feminino e 74 do sexo masculino) com idades compreendidas entre os 2 e os 20 anos. O segundo grupo (n=98) era constituído por indivíduos normotípicos (56 do sexo feminino e 42 do sexo masculino) com idades compreendidas entre os 3 e os 23 anos. Os dois instrumentos apresentaram correlações significativas, enquanto as análises de variância não paramétricas revelaram diferenças relacionadas com a idade nas dimensões e competências avaliadas. Uma análise em árvore permitiu classificar corretamente 75,1% dos casos. 74,8% dos participantes com PEA foram corretamente identificados pela análise, tal como 75,5% da amostra normotípica. As variáveis preditoras reveladas pela análise foram as Competências Sociais e de Comunicação do ICAP e a Dimensão de Comunicação do GARS-2. Os resultados confirmam que o comportamento adaptativo é um bom preditor do risco de PEA, o que pode contribuir para a sua identificação precoce.
Este artigo apresenta a aplicação e a avaliação de um projeto para a promoção de habilidades autorregulatórias entre estudantes do ensino médio técnico. O estudo foi realizado em uma Instituição Federal de Ensino do Estado de São Paulo, Brasil. A amostra do estudo foi constituída por 35 alunos recém-ingressos que apresentavam problemas de adaptação à nova rotina acadêmica e sintomas de ansiedade. Os/As estudantes receberam sessões sistemáticas de orientação de estudo para ajudá-los a desenvolver habilidades de aprendizagem autorregulada. Os dados foram coletados por meio dos seguintes métodos: Escala DASS-21 (versão brasileira), entrevistas semi-estruturadas iniciais e finais, e observações da pesquisadora. Os resultados mostram diferentes graus de sucesso dos e das estudantes na aquisição de habilidades de autorregulação. A comparação quantitativa pré e pós-teste dos dados da DASS-21 e o Método JT mostraram uma redução dos sintomas de ansiedade em 12 e 8 estudantes, respectivamente, e a análise de variância detectou uma redução significativa no escore médio de ansiedade do grupo após o projeto. A análise qualitativa mostrou que, para a maioria dos/das estudantes, as sessões do projeto promoveram o desenvolvimento de habilidades em autorregulação da aprendizagem, melhorando aspectos como o planejamento e a organização do estudo, entre outros. Novas pesquisas são necessárias, considerando as variáveis intervenientes.
O objetivo desta investigação é analisar a relação entre a memória de trabalho e a formação musical, bem como o seu impacto no desempenho académico, e a influência do género e da família de instrumentos. A amostra do estudo foi constituída por 300 estudantes com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos de idade de um conservatório público profissional de Espanha. Os instrumentos de medida utilizados foram as escalas Wechsler WISC-IV e WAIS-IV, e uma tarefa (PMTM) especificamente concebida para avaliar o desempenho da memória de trabalho musical. Foram encontradas correlações positivas e estatisticamente significativas entre a formação musical (medida como baixa, média e alta, com base nos anos de estudo) e o desempenho académico (musical e geral), e entre a alça fonológica da memória de trabalho e ambos os tipos de desempenho académico. Foram também observadas correlações positivas entre a formação musical e a alça fonológica, e com a memória de trabalho musical. Não se verificou que o género afectasse o desempenho. Em contrapartida, os padrões descritivos variaram sistematicamente em função da família de instrumentos, com os estudantes de instrumentos de cordas com arco a obterem a pontuações mais elevadas na memória de trabalho musical, seguidos dos instrumentos polifónicos e, por último, dos instrumentos de sopro. Estes resultados podem ser utilizados para criar programas de melhoria da memória de trabalho para ajudar os estudantes do conservatório a maximizar o seu potencial e eficácia da sua aprendizagem.
O principal objetivo deste trabalho foi analisar o valor preditivo das funções executivas em relação a alterações no desempenho académico de adolescentes do ensino secundário, com base na autoavaliação e na avaliação parental. O estudo consistiu numa investigação quantitativa, não-experimental, descritivo-correlacional, com 265 adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos. Os estudantes avaliaram as suas próprias funções executivas através da Self-Report Scale of Executive Functions, enquanto os seus pais/encarregados de educação as avaliaram através da Parental Scale of Executive Functions. O estatuto socioeconómico foi obtido através do Inquérito sobre o Estatuto Socioeconómico e o desempenho académico foi obtido a partir das pautas das classificações. Os resultados revelaram uma correlação positiva entre o desempenho académico e as funções executivas, tal como são percebidas pelos adolescentes e pelos pais, bem como entre o desempenho académico e o estatuto socioeconómico. Além disso, o desempenho académico foi significativamente explicado pelo estatuto socioeconómico e pelas actividades relacionadas com a memória de trabalho e o planeamento, de acordo com a perceção dos adolescentes e dos pais. Com base nestes resultados, o estudo conclui que os adolescentes são capazes de refletir sobre a eficácia das suas funções executivas de uma forma que é relevante para o seu desempenho académico, e que os pais podem fornecer informações relevantes sobre as funções executivas dos seus filhos. Além disso, os resultados evidenciam a importância do estatuto socioeconómico na análise da relação entre as funções executivas e o desempenho académico.
EDITOR: Serviço de Publicações da Universidade da Coruña
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Esta revista é uma continuação de: Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía e Educación (anos 1997-2013) - ISSN: 1138-1663.
e-ISSN: 2386-7418 - Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación - https://revistas.udc.es/index.php/reipe/